Africa Monitor

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Leston Bandeira

As 5 polémicas da campanha eleitoral em Cabo Verde

As 5 polémicas da campanha eleitoral em Cabo Verde


1. PORTOS - Numa carta “reservada” ao primeiro ministro (mas entrada no domínio público pouco antes do início oficial da campanha), o presidente da empresa portuária pública (ENAPOR), Carlitos Fortes, considerou lesivo dos interesses do Estado de Cabo Verde o modelo para a exploração dos portos, previsto no acordo de subconcessão, a ser negociado pelo atual governo.

Com pouco tempo de mandato, Carlitos lançou assim a querela mais forte entre os dois principais candidatos na corrida eleitoral até 20 de março. Num negócio com profundas e prolongadas implicações económicas e estratégicas, o MpD entende que o PAICV deve tratar de tudo, mas deixar para o novo governo a assinatura do contrato - que tudo indica, será feita com multinacional francesa Bolloré.

Olavo Correia, vice-presidente do MpD, convocou esta semana uma conferência de imprensa para defender que os argumentos do presidente da ENAPOR sejam aprofundados e reanalisados. E que todos os riscos para o país “devem ser acautelados e bem geridos”. Isto, mesmo depois de o chefe do governo, José Maria Neves, ter garantido que tal só ocorrerá depois de 20 de Março.

 

2. ENACOL – O candidato do MpD, Ulisses Correia, prefere não falar do seu desempenho no Ministério da Economia, durante um dos mandatos de Carlos Veiga, pelo MpD. Foi nessa altura que foi privatizada a empresa distribuidora de combustíveis ENACOL. E, em circunstâncias não completamente esclarecidas, um milhão de Escudos terão sido “desencaminhados”.

A experiência de Ulisses Correia é usada como principal trunfo, em particular o currículo como presidente da Câmara da Cidade da Praia, por contraponto à juventude da opositora Janira Hoppfer Almada. De prever que o PAICV use, até 20 de março, o “caso ENACOL” para tentar anular o argumento.

3. EMPREGO - Outras das polémicas entre as duas principais forças políticas também entronca nas declarações de José Maria Neves que, num comício de segunda-feira, afirmou que o país tem já todas as condições para a criação de milhares de empregos no futuro.

O mesmo Olavo Correia deu uma conferência de imprensa em que negou a existência de tais condições, porque, aceitando-a, estaria a retirar força a uma das intenções mais propaladas pelo MpD - a criação de 45 mil novos empregos.

4. FAVORECIMENTO - É ainda de empregos que se fala quando se recorda a primeira, e até agora única, grande querela esta entre o PAICV e a UCID: num debate televisivo, Janira disse que o cabeça de lista da UCID para Santiago do Sul recebe um salário de 400 mil escudos.

Péricles Lopes trabalha no Millenium Challenge Account desde 2012 e veio, em conferência de imprensa, esclarecer que recebe um salário bruto superior a 400 mil escudos mensais, mas que após descontos, fica com cerca de 300 mil.

O candidato da UCID acrescentou que tem aquele emprego para o qual fez concurso público e, a este propósito, aproveitou para se referir a facto político de que toda a gente andava à espera de ouvir falar, mas por parte do MpD: Janira, quando ministra da área social tentou colocar o seu marido como director de um Instituto que tutelava. Na altura, a ministra foi muito criticada e a colocação não chegou a concretizar-se.

Péricles Lopes, ainda na sequência do seu protesto, acusou Janira e o PAICV de não saberem “o que é um concurso público, por desconhecimento do conceito”.
“Caso estivéssemos numa sociedade mais exigente, a líder do PAICV estaria presa ou impossibilitada de exercer cargos públicos”- concluiu o cabeça de lista da UCID, cujo líder, Manuel Monteiro, diz que o seu partido, que tem dois deputados no parlamento, se está a preparar para ganhar estas eleições.

5. SÃO VICENTE – O chamado poder regional desta ilha é outro tema que divide os três partidos que concorrem a todos os círculos eleitorais. “São Vicente precisa de alguém que acredite na Ilha, que faça com que o governo regional seja uma realidade”, diz Ulisses Correia, do MpD. 

Pelo seu lado, o PAICV entende que as bases desse poder estão lançadas e que é preciso fortalecê-las.

António Monteiro, líder da UCID faz a maior parte da sua campanha em São Vicente, nos bairros periférios de Mindelo, onde repete a ideia. “ A UCID quer ganhar estas eleições e estamos a trabalhar e a lutar para ganhar as eleições”.