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Direitos Humanos devem trazer novas tensões a relação Portugal-Angola

Direitos Humanos devem trazer novas tensões a relação Portugal-Angola

 
De um lado está um país membro do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas nos próximos 2 anos. Do outro, um país acabado de celebrar os seus 40 anos de independência, em clima de intimidação e repressão de contestatários. Entre ambos, uma forte relação política e económica, que deverá conhecer novos episódios de tensão nos próximos tempos, devido aos Direitos Humanos.

Em comentário para o Instituto Português de Relações Internacionais e de Segurança (IPRIS), o analista Paulo Gorjão lembra anteriores episódios de tensão, como a suspensão da parceria estratégica entre Portugal e Angola, há 2 anos devido aos casos na Justiça portuguesa envolvendo altas figuras angolanas, e as duras críticas do regime angolano após a visita do embaixador de Portugal ao ativista Luaty Beirão, luso-angolano que começa hoje a ser julgado por supostos planos de um atentado contra o presidente.

Para Gorjão, “é suficiente que a contestação se mantenha nos níveis actuais — e que o governo angolano persista na mesma estratégia repressiva perante o exercício da liberdade de expressão — para que, mais tarde ou mais cedo, um novo incidente provoque tensões políticas entre Portugal e Angola”.

Nem os cuidados de Portugal em relação à visita ao ativista então em greve de fome, adianta, foram suficientes “para apaziguar os ânimos angolanos”. “Situações como esta, ou de natureza similar, têm elevada probabilidade de voltar a repetir-se no futuro se Angola mantiver a mesma linha repressiva, como é provável que venha a acontecer”.

O analista defende que o governo português tem de continuar a assumir a defesa dos direitos humanos, até porque “tem responsabilidades acrescidas”, por ter sido eleito membro do Conselho de Direitos Humanos da ONU, até 2017. Ao mesmo tempo, é do seu interesse a estabilidade política, económica e social de Angola.

“Portugal não pode fechar os olhos perante a gestão pouco razoável de fenómenos de contestação política e social. Nessa medida, apertem os cintos de segurança porque será uma questão de tempo até que ocorra a próxima crise política entre Lisboa e Luanda”, afirma Gorjão.