Africa Monitor

Acesso Livre

Paulo Guilherme

Notas do Editor: Das "Oportunidades" aos "Haircuts" em Angola

Notas do Editor: Das "Oportunidades" aos "Haircuts" em Angola

"Venham investir em Angola, agora é a oportunidade".

Quantas vezes ouvimos isto a governantes angolanos - solicitamente secundados por congéneres portugueses - ao longo dos últimos anos? 

E muitos milhares de investidores, pequenos e grandes, lá foram, nos últimos anos. Muitos deram-se bem, sobretudo em tempos de abundância. Alguns fizeram as malas e deixaram Angola quando as coisas começaram a ficar difíceis. Outros deixaram-se ficar, com as suas empresas. 

O que os governantes, de um país e do outro, nunca disseram foi que o Estado angolano é mau pagador. Sobretudo em tempos de crise, como os actuais. E que já foram negociados desde a independência vários perdões de dívida, em que as empresas tiveram sempre de incorrer em perdas. 

Os montes de dívida não são coisa nova. A originalidade do processo actual é que, em vez de negociado um acordo, Angola decide quanto pode (ou quer) pagar. E, tão importante, como quer pagar.

E, disse esta semana o secretário de Estado angolano da Economia, Sérgio Costa, o montante está decidido: 500 milhões de dólares. E disse-o em tom de boa notícia: metade (250 milhões já estão pagos).

Acontece que os 500 milhões representam um "haircut" em relação ao que era reclamado pelas empresas. Só as contrutoras, tinham a haver por obras entregues perto de 1.000 milhões de euros. Mas estas foram sujeitas a uma auditoria, em que basicamente foram encontradas todas as razões e mais alguma (incluindo "falta de fiscalização de obra") para reduzir esse montante. E depois veio a revisão de preços, levando em conta uma desvalorização do kwanza em 40-50%.

Esse foi o primeiro "haircut".

O segundo "haircut" está na forma de pagamento: títulos de dívida do Estado angolano, em kwanzas, que as empresas têm de trocar por "cash" nos bancos, com um desconto de cerca de 30%.

Nessa parte da "entrevista" (declarações, na realidade) à agência noticiosa portuguesa, o secretário de Estado já começa a gaguejar.

Ou seja, as empresas estão a receber migalhas e a incorrer em fortes perdas - quando lhes foram prometidas oportunidades.

Entretanto, já há redes inteiras montadas para agilizar o processo, como damos conta no Africa Monitor desta semana.

Quem não parece muito disposto a aberturas negociais ao governo angolano é o Fundo Monetário Internacional, e as relações entre ambas as partes têm vindo a agravar-se.

Também ardiloso é o processo de preparação das eleições de 2019 em Moçambique. No AM 1199, desmontamos as acções que estão a ser levadas a cabo para assegurar uma vitória confortável da Frelimo. 

De Cabo Verde, informação sobre a concessão dos aeroportos do arquipélago, que conta com interesse estrangeiro

Finalmente, atenção ainda a Marrocos, e aos esforços do Governo para dinamizar a economia e a criação de emprego.