Africa Monitor

Acesso Livre

Paulo Guilherme

Acusado de corrupção, Patrice Trovoada mantém-se longe de São Tomé

Acusado de corrupção, Patrice Trovoada mantém-se longe de São ToméA demorada ausência do país do ex-primeiro ministro de São Tomé e Príncipe, Patrice Trovoada, é criticada em meios políticos locais como “politica e moralmente comprometedora” para o próprio. Trovoada, também remetido ao silêncio, aparentemente de `motu proprio´, deixou o país em data praticamente coincidente com a demissão do seu Governo, em Dezembro de 2012, para não mais regressar.

Segundo o Africa Monitor Intelligence (www.africamonitor.net), Trovoada esteve inicialmente em Portugal, de onde terá partido para o Brasil. Membros do Governo de coligação em funções, incluindo o Primeiro Ministro, Gabriel Costa, têm vindo a fazer denúncias públicas de casos e/ou práticas graves de ausência de transparência da governação anterior, nomeadamente nos domínios financeiro e contratual.

A censura suscitada pela ausência do ex-PM decorre da ideia de que ele devia estar presente no país para responder politicamente pelos actos imputados ao seu Governo. Outros consideram a sua ausência uma demonstração das suas ténues ligações afectivas a São Tomé e Príncipe. Nasceu no Gabão, onde foi educado e viveu até à adolescência; trabalhou quase sempre no estrangeiro e mesmo no exercício da sua actividade política eram fugazes os seus momentos de permanência no país.

Com base nas referidas denúncias contra o seu governo, algumas alegadamente baseadas em provas documentais, outras em simples suspeitas (justificadas por destruição de provas), foram abertos processos de investigação judicial.

Gabriel Costa, apoiado pelo MLSTP-PSD, PCD e MDFM-PL, acusou publicamente o governo Trovoada de envolvimento em actos de corrupção, má gestão e da prática de várias outras irregularidades, apontando em particular carências generalizadas nos hospitais ou quartéis militares, apesar de despesas efectuadas na aquisição de material.

"O país vinha-se afundando a passos largos. Havia há dois meses atrás um abrandamento de crescimento, e dificuldades nítidas de se fazer pagamentos", explicou Gabriel Costa, que acusou o executivo cessante de "destruir todos os documentos que estavam nos computadores".
O governante afirmou ainda ter herdado uma dívida com o jornal inglês Vision no valor de 192 mil euros, devido a publicidade encomendada por Patrice, que terá orientado o banco central, a empresa de combustíveis e Óleos (Enco) e a empresa sul-africana HBD Vida Boa a comparticipar do pagamento.

O governante são-tomense apontou ainda que o primeiro-ministro cessante gastou cerca de 300 mil euros com viagens realizadas desde 16 de Agosto de 2011.

 
“Alarme” nas finanças públicas

O novo Governo de São Tomé e Príncipe atribui prioridade máxima na sua ação a medidas de contingência e a políticas destinadas a aliviar o Estado, considerado “alarmante” a situação das finanças públicas. A liquidez de tesouraria encontra-se em níveis irrisórios, e não se vislumbram condições de mobilização de recursos internos adicionais.

Entre os elementos considerados demonstrativos da severidade da penúria financeira em que o Estado se encontra, o mais impressivo é o de que os recursos disponíveis são insuficientes para suportar integralmente os encargos com um mês de salários dos funcionários públicos.

Patrice Trovoada e o seu partido, ADI, estão aplicados num “forcing” político interpretado como destinando-se a apresentá-lo como “vítima” da situação. A argumentação usada relaciona o seu afastamento do Governo com o desfecho de um processo do interesse do Presidente e da oposição, em especial do MLSTP/PSD.