Africa Monitor

Acesso Livre

Paulo Guilherme

A Semana em Palavras 1

A Semana em Palavras 1

1. Contra-producente: Foi a reação (chamar-lhe "estratégia" seria exagerado) do regime do MPLA à indignação geral com a violenta (e sangrenta) repressão no Cafunfo. Além de agitar ainda mais os ânimos nas Lundas - bem como noutras regiões sensíveis como Cabinda - o MPLA procurou desviar o assunto para a questão da nacionalidade (e, convenhamos, a cor de pele mulata) do líder da UNITA (Ler comunicado). Só néscios acreditarão que a lógica e os termos da reação não passaram pelo crivo do presidente (Lourenço, que cada dia mais se parece com o seu antecessor). A UNITA respondeu com igual truculência (Ler comunicado). Os espíritos do racismo e conflito vieram visitar-nos.

2. Revés: No esforço da Presidência moçambicana para inverter a maré no combate aos insurgentes de Cabo Delgado. A Covid-19 ceifou esta semana o chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas de Defesa de Moçambique, EUGÉNIO MUSSA, em cuja mão firme Filipe Nyusi confiava para colocar um ponto final na humilhação a que as FDS vêm sendo sujeitas. Ler no AM Intelligence desta semana o ponto de situação sobre a (re)organização da estrutura de apoio ao complexo de gás natural no N da Província.

3. Opacidade: A Pandemia da Covid- 19 é responsável pelo crescente número de casos de corrupção, justifica inopinadamente o Gabinete Central de Combate à Corrupção moçambicano (o Centro de Integridade Pública escalpeliza a questão). Entretanto Governo Nyusi ainda não publicou os relatórios de Dezembro e Janeiro sobre desembolsos e alocação de fundos no âmbito de combate à Covid-19, como alerta o Fórum de Monitoria Orçamental.

4. Sinais: De fragmentação na coligação política em torno do PR da Guiné-Bissau, como revelamos no AM Intelligence desta semana. Terá Sissoco Embaló capacidade para montar uma nova coligação, com mais apoios do PAIGC, e formar um novo governo? Ou será vítima do seu próprio excesso de confiança? O risco é grande, incluindo de levantamentos nos quartéis.

5. Camaradagem: A Confederação da CPLP (encabeçada por SALIMO ABDULÁ, antigo ponta-de-lança dos negócios de ARMANDO GUEBUZA) prepara-se para organizar uma Cimeira de Negócios (física). O local escolhido? Malabo, na Guiné Equatorial. O programa, em tons de cor-de-rosa sobre a situação económica e política no país de Teodoro Obiang, pode ser consultado aqui.

6. Reinvenção: De Enrique Bañuelos em Cabo Verde, prometendo mobilizar investimentos de 800 milhões de euros (!!), depois de ter falhado a aquisição de um banco, a CECV, há dois anos. Como damos conta no AM Intelligence desta semana, nos olhos dos membros do Governo, rebrilham os cifrões, em tempos de penúria - e em ano, para mais, eleitoral.

7. Ideia: No atual contexto de pandemia deve ser notado que tanto Portugal como o Brasil têm instituições científicas de ponta. E que o Brasil está a produzir vacinas, de que os países africanos precisam desesperadamente. E que nada disto faz parte da vida da CPLP que tem, até, feito algum trabalho na área da Saúde.