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Nova polémica na União Africana, com acusações de nepotismo contra Presidente

Nova polémica na União Africana, com acusações de nepotismo contra Presidente

Moussa Faki Mahamat é novamente visado por acusações graves e críticas à sua ineficiência.


O presidente da Comissão da União Africana (UA), o chadiano Moussa Faki Mahamat, é acusado de corrupção, nepotismo e falta de liderança num memorando interno datado de 6 de Março deste ano que circula na organização e a que alguns meios de comunicação social, designadamente o sul-africano Mail & Guardan (M&G), já tiveram acesso.

Subscrito pelo responsável da Associação de Pessoal da UA, o documento manifesta preocupações quanto a nomeações na organização, que terão recaído em pessoas sem qualificações para os cargos, escolhidas sem recurso a um processo legítimo de recrutamento, refere o M&G. O memorando, citado pela publicação, também responsabiliza Moussa Faki Mahamat pelo caos, decadência moral e impunidade que o seu autor considera reinarem na UA.

Convidado a responder a questões do M&G, o presidente da Comissão da UA terá declinado, refere a publicação, mas a sua porta-voz, Ebba Kalondo, terá afirmado que Moussa Faki Mahamat “sempre se empenhou nas questões organizacionais” e que fora um dos criadores das auditorias forenses “actualmente em curso na organização, entre outras medidas”.

Já a Voice of America (VOA) refere que a porta-voz desmentiu quaisquer relações de Moussa Faki Mahamat com estas alegações, que considera graves, e que desafiou o autor do memorando a apresentar provas do que diz. Igualmente convidado a comentar o caso, o presidente da UA, o actual chefe de Estado da África do Sul, Cyril Ramaphosa, também optou por não o fazer, segundo o M&G.

Entretanto, a publicação Jeune Afrique revelou recentemente que Moussa Faki Mahamat ordenou uma auditoria externa ao trabalho das direcções da UA entre 2012 e 2018. Segundo a publicação, esta é a primeira auditoria externa à organização, está a cargo da PwC (PricewaterhouseCoopers), desde Fevereiro, e incidirá sobre recrutamento de pessoal e procedimentos de renovação de contratos, aquisições e viagens, gestão de despesas administrativas em projectos financiados por parceiros, contribuições de Estados membros e parceiros e o Peace Fund.

Este ano, a África do Sul (RSA) detém a presidência da União Africana (UA), com dois grandes temas na agenda: a implementação da Zona de Comércio Livre Continental Africana (ZCLCA, ou AFCFTA, em inglês), prevista para 1 de Julho próximo, e a segurança, que envolve a pacificação de conflitos militares regionais do continente. Durante um ano, o Presidente da RSA, Cyril Ramaphosa, secundado pelos chefes de Estado da República Democrática do Congo, Felix Tshisekedi, Mali, Ibrahim Boubacar Keïta, e Quénia, Uhuru Kenyatta, nas vice-presidências, será o rosto da organização, até ceder o cargo rotativo a Felix Tshisekedi, em 2021.



Outras críticas

A M&G lembra que esta não é a primeira vez que pessoas próximas de Moussa Faki Mahamat, no cargo desde Março de 2017, o acusam e a outros altos quadros da UA de corrupção. Numa carta dirigida ao Presidente do Gana em 2018, e a que o M&G também terá acedido, o vice-presidente da Comissão da UA, o ganês Thomas Kwesi-Quartey terá acusado Moussa Faki Mahamat de nepotismo, refere a publicação. Em Fevereiro do mesmo ano, um membro do conselho consultivo da UA contra a corrupção terá resignado ao cargo por falta de esforços anti-corrupção na organização, diz o M&G.

Ainda em 2018, terá sido constituída uma comissão de inquérito para investigar alegações de assédio sexual na UA, reveladas pela M&G, que terá concluído que o mesmo abundaria na organização, indicando mesmo os indivíduos implicados (pelo menos 40), refere a publicação.

Outra questão interna afectou a UA durante o mandato de Moussa Faki Mahamat. Em 2018, o jornal francês Le Monde noticiava que a China alegadamente espiara a actividade da organização. Segundo o jornal, entre 2012 e 2017 terão sido transferidos dados dos servidores da UA para servidores localizados em Xangai, a partir da sede da organização, em Adis Abeba, construída e oferecida por Pequim precisamente em 2012.

Dizia então o jornal que os sistemas informáticos foram entregues "chave na mão", mas que os engenheiros chineses terão deixado propositadamente duas falhas técnicas que permitiriam “o acesso discreto” à totalidade das produções internas da UA.

Depois de revelada a transferência de dados, técnicos informáticos etíopes descobriram também microfones em mesas e paredes da sede da organização, referiu o Le Monde. De acordo com o jornal, a missão chinesa junto da organização não respondeu ao seu pedido de comentário. Mas à BBC, o embaixador da China na UA desmentiu as acusações, acrescentando que se tratavam de informações falaciosas e sensacionalistas.