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"Relação entre os Estados de Angola e da Guiné-Bissau está acima das relações MPLA-PAIGC" - MNE

"Relação entre os Estados de Angola e da Guiné-Bissau está acima das relações MPLA-PAIGC" - MNE

Suzi Barbosa, ministra de Estado e dos Negócios Estrangeiros da Guiné-Bissau, rejeita, em entrevista ao AfricaMonitor.net que Bissau tenha preferido endossar a São Tomé e Príncipe a presidência da CPLP, que deveria assumir após Angola. Sobre os desentendimentos com Luanda, a ministra Suzi Carla Barbosa assume como avanço o "agrément" dado nos últimos dias por Luanda ao novo embaixador guineense no país, mas frisa que a relação deve ser entre Estados e não entre partido. Recorde-se que o presidente angolano João Lourenço apoiou o líder do PAIGC na rejeição dos resultados das últimas eleições presidenciais, que deram a vitória a Umaro Sissoco Embaló em 2020. De passagem por Lisboa, Barbosa revela ainda que Sissoco tem sido procurado por líderes de vários países, incluindo França, por manter contacto com o líder militar que depôs Alpha Condé, presidente da Guiné-Conacri.

 

Africa Monitor (AM) - Que balanço faz, em geral, da última sessão anual da AG da ONU? E que objectivos concretos foram alcançados pela Guiné-Bissau em Nova Iorque?
Suzi Barbosa (SB) - A AG das Nações Unidas é a maior plataforma política do mundo e serviu para lançar a mensagem política da Guiné-Bissau, mas sobretudo serviu para fazer várias reuniões bilaterais à margem, com outros países.  De destacar os encontros com a Embaixadora dos EUA nas NU,  Presidente da Turquia, Kosovo, Sudão do Sul, vários chefes de governo Europeus, Presidente do Conselho Europeu, etc.. A Guiné-Bissau conseguiu esclarecer questões de interesse nacional e afirmar a sua posição na arena internacional, reforçando a posição de influência do Presidente Umaro Sissoco Embaló.


AM - Que solução defende Bissau para solução da crise na Guiné Conacri? E em concreto para o futuro de Alpha Condé?SB - Antes de mais, convém recordar que por diversas vezes, ainda antes do golpe em Conacri, o Presidente Embaló alertou que a mudança da constituição para permitir um 3° mandato correspondia a um golpe de estado. Mas após o golpe, ele condenou imediatamente por considerar que se tratou de uma subversão da ordem constitucional. Nesses dias, o Presidente Embaló foi contactado por vários chefes de Estado,  nomeadamente o Presidente Macron (de França), o Presidente Macky (Sall, do Senegal), o Presidente Sassou Nguesso (da Rep. do Congo),  entre outros, porque conseguiu manter contacto telefónico com o Coronel Mamady Doumbouya.
A solução apontada pelo Presidente Embaló passa por uma mediação feita por um político experiente, tendo ele citado o Ex-presidente Issoufou do Níger e a possibilidade de Alpha Condé ser deixado sair do país, para o exílio num país seguro.


AM - São conhecidos os desentendimentos entre a Guiné-Bissau e Angola, com consequências diplomáticas entre os dois países, devido ao apoio público do PR angolano à rejeição dos resultados eleitorais pelo candidato derrotado pelo PR Sissoco. Existem algumas iniciativas em curso para desbloquear a situação? O que Bissau espera da parte de Angola para considerar o caso ultrapassado?
SB - Não existem desentendimentos, precisamente Angola acaba de dar o Agrément ao Novo Embaixador da Guiné-Bissau naquele país (Apolinário Mendes de Carvalho). Houve sim uma série de episódios que não foram do agrado do presidente Sissoco, que ele fez questão de denunciar, como pessoa direta e espontânea que é. Pensamos que as relações entre os Estados estão acima das pessoas, mas há que se respeitar os princípios da boa convivência e recordar como sempre diz o Presidente Sissoco, que a relação entre o Estado de Angola e o Estado da Guiné-Bissau está acima das relações MPLA PAIGC.
 

AM - Quais as razões que levaram a Guiné-Bissau a preferir passar a Sáo Tomé e Príncipe a próxima presidência da CPLP? Quais os objectivos ao nível da organização, depois da presidência de STP?
SB - Em momento nenhum a Guiné-Bissau preferiu passar a Sáo Tomé e Príncipe a próxima presidência da CPLP.  Contrariamente ao veiculado nos órgãos da  comunicação social, a Guiné-Bissau não fez nenhuma proposta durante a reunião dos Ministros dos Negócios Estrangeiros da CPLP  que teve lugar em Nova Iorque. Primeiro porque esse tipo de decisões e comunicações são feitas a nível de Chefes de Estado. 
A Ministra de Estado, Suzi Barbosa, transmitiu, de maneira clara e inequívoca, a mensagem do Presidente Umaru Sissoco Embaló que considera de suma importância a preservação de um relacionamento baseado no respeito mútuo e na igualdade dos Estados, não aceitando a banalização das regras. É da opinião de que, a manutenção das excelentes relações entre a Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe ultrapassa de longe a mera questão de uma Presidencia pro tempore da CPLP e, consequentemente, não permite nenhuma interferência quanto à verdadeira motivação destes dois países irmãos. A Guiné-Bissau disse sim, que estaria disponível em apoiar São Tomé e Príncipe na  presidência da CPLP, caso fosse esse o entendimento colectivo. 
Mas o que é certo é que não houve nenhum consenso nem anúncio no final da reunião de quem iria Presidir a próxima Cimeira, contrariamente ao anunciado.


AM - Quais as principais acções em curso com Portugal, no que diz respeito a cooperação e investimento na Guiné-Bissau?
SB - Foi assinado em Janeiro deste ano o PEC, Plano Estratégico de Cooperação entre Portugal e a Guiné-Bissau, no valor de 60 milhões de euros, e nesse âmbito já foram assinados vários acordos sectoriais, nomeadamente na área da Saúde, Educação, Administração Pública e brevemente Defesa.


AM - Qual o papel da China enquanto parceiro e investidor na Guiné-Bissau? E de países como a Turquia ou do Médio Oriente (Emirados Árabes Unidos p ex)?
A China tornou-se um grande parceiro bilateral,  com uma estratégia de cooperação baseada na satisfação rápida das necessidades dos países africanos. Tem marcado a sua cooperação na Guiné-Bissau com a construção de infraestruturas, desde edifícios, estádio, estradas,  etc.
A Guiné-Bissau encontrou na Turquia e nos países do Golfo novos parceiros da cooperação, com a abertura de missões diplomáticas por primeira vez na Turquia e Qatar e espera-se para breve a reciprocidade.
 

AM - O PR Sissoco tem mantido uma intensa agenda de deslocações ao estrangeiro. Entre as próximas deslocações planeadas, quais as principais?
SB - A participação nos grandes fóruns internacionais,  nomeadamente o COP 26 e a Conferência dos LSC a realizar-se em Qatar a inícios do ano, para a qual o Presidente Sissoco foi convidado pelas Nações Unidas a ser um "Champion" para o LDC5 (Less Developed Countries).
 

AM - O nome da ministra Suzy Barbosa tem sido associado com frequência ao cargo de PM. É algo que está em cima da mesa? Ou nos seus objectivos futuros?
SB - São meros boatos,  que não correspondem à realidade e não passam de especulações infundadas. 
Posso assegurar não está de nos meus objectivos futuros. A Coligação do governo está firme e sólida sob a liderança atual Primeiro-ministro, Nuno Gomes Nabiam.