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Sucessão no PAICV: o “vulcão” em erupção na política de Cabo Verde

Sucessão no PAICV: o “vulcão” em erupção na política de Cabo Verde

 
Nos últimos dias, Cabo Verde capturou atenções internacionais por causa da actividade do vulcão da ilha do Fogo. Mas há uma outra “erupção” a motivar alertas – no seio da política do arquipélago, ultima-se a sucessão de José Maria Neves, primeiro-ministro há mais de uma década, à frente do PAICV.

As eleições diretas para a liderança do PAICV estão marcadas para 14 de dezembro e o respetivo congresso ratificativo a 24 e 25 de janeiro de 2015. O candidato considerado mais forte é Felisberto Vieira (“Filú”), um rival político de Neves, que preferiria a eleição de Janira Hopfer Almada ou Cristina Fontes. Terminando o mandato do primeiro-ministro apenas em 2016, adivinha-se um ano de coabitação difícil, segundo a newsletter Africa Monitor.

A antiga rivalidade política entre José Maria Neves e Felisberto Vieira e o carácter pouco amistoso das suas relações pessoais, dificulta a hipótese de um futuro “tandem” entre ambos – um encabeçando a governação, outro liderando o partido. A possibilidade de uma reafirmação eleitoral do partido ficaria assim em causa.

Um dos cenários admitidos é o da antecipação do final do mandato do governo de José Maria Neves dá sinais de fadiga, traduzida em falta de iniciativa, falta de aplicação. A ministra das Finanças, Cristina Duarte, figura chave do Governo, anunciou a sua candidatua à presidência do BAD, do mesmo modo que correm rumores de que o primeiro-ministro se inclina por um cargo internacional de relevo – duas alterações com reflexos na estabilidade governativa.

Além disso, refere a newsletter num artigo de pesquisa e análise, o novo lider do PAICV precisará de dispôr de boas condições para se preparar para as eleições previstas para 2016, legislativas e presidenciais; o contrário implicará riscos acrescidos de desaire.

O ano vai terminar com Cabo Verde numa situação geralmente considerada “difícil”: um crescimento do PIB próximo do zero, taxa de desemprego, principalmente jovem, a crescer acima de 15%, acentuação do clima de insegurança interna e mau funcionamento do sistema de justiça.

A forma como o Governo vem gerindo o combate à criminalidade, marcada pelo recente assassinato da mãe de uma inspectora da Polícia Judiciária com acção destacada na prisão de narcotraficantes, é considerada ilustrativa de falta de capacidade de resposta.

O facto de o Governo só ter anunciado medidas destinadas a fazer face à emergência apenas depois de advertências públicas do ex-Presidente, Pedro Pires (considerou o que se tinha passado como um acto de terrorismo contra o Estado), deu azo a comentários como o de que as suas alegadas “tendências imobilistas” se tinham agudizado.


Entra “Filú”, sai Neves?

De acordo com pontos de vista de conselheiros de Felisberto Vieira, a hipótese de uma vitória do PAICV nas eleições de 2016 dependerá em larga escala do balanço que vier a ser feito da acção governativa de 2015. Considera-se que uma liderança partidária nova não vingará ante uma governação desgastada.

A solução que consideram ser a que melhor poderia atender a todos os interesses em presença, sem prejudicar ou favorecer nenhum, seria a assunção do cargo de Primeiro-Ministro pelo próprio, na qualidade de novo líder do PAICV.

A hipótese de o Presidente vir a vetar esta solução, optando por antecipar eleições, é considerada pouco provável, tendo em conta que Felisberto Vieira será então presidente do PAICV. Acresce que existe um precedente similar; em 1999, Carlos Veiga, novo lider do MpD, afastou Gualberto do Rosário e assumiu ele próprio o cargo.

O Africa Monitor Intelligence adianta que Felisberto Vieira estuda possíveis cenários de um novo Governo. Manter o essencial do actual, com a entrada de duas/três figuras que lhe são próximas ou enveredar por uma solução para a qual aparentemente mais se inclina, que é a de constituir novo Governo, com novos e refrescados membros.

Na Praia, corre que em qualquer dos cenários Fernando Moeda é o preferido de Felisberto Vieira como futuro ministro das Finanças. Fez parte da sua equipa na Câmara Municipal da Praia; é administrador do Banco Comercial do Atlântico, o qual é liderado pela Caixa Geral de Depósitos.