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Apoio de Angola importante para Guiné-Bissau, se CEDEAO “deixar”

Apoio de Angola importante para Guiné-Bissau, se CEDEAO “deixar”


O golpe de Estado de 2012 foi o resultado do envolvimento direto de Angola na resolução dos problemas de segurança da Guiné-Bissau, mal aceite por países vizinhos como a Nigéria e Senegal. A reforma do aparelho militar continua por fazer e o apoio de Angola pode ser importante, até porque os países da comunidade regional (CEDEAO) precisam de dinheiro para a missão que têm no terreno (ECOMIB), mas aguardam-se ainda sinais de abertura a esse envolvimento, afirma o analista Gustavo Plácido dos Santos.

Num recente artigo para o Instituto Português de Relações Internacionais e de Segurança (IPRIS), Plácido dos Santos defende que os interesses internacionais são hoje os mesmos do que os que levaram à crise de 2012. Ou seja, Nigéria (e parceiros), África do Sul e Angola continuam a seguir de perto a situação. Exige-se um “entendimento” e as autoridades de Bissau devem trabalhar para fortalecer laços.

A proximidade de alguns elementos do novo governo de Bissau em relação a países lusófonos levantou preocupação entre a CEDEAO. Mas as autoridades demonstraram dar prioridade a estes nos seus contactos. Entretanto, as situação económica nigeriana deteriorou-se, levando a que hoje necessite de novas fontes de financiamento para a ECOMIB.

“Neste contexto, Angola aparece como um activo potencialmente importante. Apesar de estar a passar por uma situação económica difícil, Luanda tem dado prioridade ao investimento nas Forças Armadas. Considerando a capacidade e experiência militar do país na integração de antigos combatentes rebeldes, torna-se clara a vantagem de ter Angola como um actor engajado”, afirma o analista.

O problema, adianta, será a aceitação por parte da CEDEAO desta “oportunidade” de partilhar o fardo financeiro, que é ao mesmo tempo o “problema” de ter Angola activa na África Ocidental. “Será interessante ver até que ponto a CEDEAO, em particular a Nigéria e o Senegal”, vão permitir a Luanda retomar a cooperação com Bissau. A situação na região, a nível económico e financeiro, vai manter-se complicada, continuando a ser urgente obter mais apoios para a missão militar.

“Luanda quer moldar a sua reputação e virar-se para África. Para isso, pretende transformar Bissau numa base de projeção de poder e influência para além das regiões em que está mais diretamente envolvida, assim expandindo a sua presença no Golfo da Guiné e pondo um pé na África Ocidental”, refere.

A decisão compete às autoridades guineenses, mas as suas acções estão condicionadas pelos interesses das potências regionais. “Na ausência de uma reforma do sector de segurança eficaz, não será possível consolidar a ordem constitucional”. Um novo golpe, teria um forte impacto nos objetivos da organização regional.