Africa Monitor

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Angola e Moçambique Podem Ganhar com Eleição de Cyril Ramaphosa

Angola e Moçambique Podem Ganhar com Eleição de Cyril Ramaphosa


por Natasha Lubaszewski *

O vice-presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, foi eleito líder do Congresso Nacional Africano (ANC) na segunda-feira, ganhando uma corrida acesa, que expôs divisões profundas dentro do partido. Os investidores internacionais e agências de "rating" reagiram positivamente à sua eleição, antecipando maior confiança na economia sul-africana e na sua moeda, que flutuou de forma brusca durante a presidência de Jacob Zuma. Para Angola e Moçambique, uma revitalização no seu vizinho mais poderoso vem apoiar os esforços em curso de dinamização das suas economias.

A vitória no ANC coloca Ramaphosa na primeira linha para suceder ao presidente Jacob Zuma, cujo governo tem sido marcado por um declínio constante do apoio ao partido, principalmente devido à desaceleração económica, com uma taxa de desemprego recorde de 27%, e aos escândalos públicos envolvendo o próprio presidente. No ano passado, o ANC sofreu uma derrota eleitoral significativa, perdendo o controle de cidades como Joanesburgo e Pretória. Com eleições presidenciais marcadas para 2019, as perspectivas para o partido permanecem cinzentas. Com a vitória de Ramaphosa, o ANC passa a ter como líder alguém capaz de reunificar o partido e reconstruir a sua imagem, recuperando a confiança dos eleitores.

Ramaphosa nasceu, em 1952, no Soweto (Joanesburgo) e participou, com Nelson Mandela, nas negociações que levaram ao fim do regime do apartheid no país, no início da década de 1990. Tornou-se deputado e presidente da Assembleia Constitucional, desempenhando um importante papel na elaboração da Constituição pós-apartheid, considerada uma das mais liberais do mundo. Antigo líder sindical, Ramaphosa acabou por se transformar em empresário e hoje é um dos homens mais ricos da África do Sul. São estes antecedentes no setor privado que o ajudaram a conquistar o apoio da comunidade empresarial sul-africana.

A sua principal rival na corrida de liderança, Nkosazana Dlamini-Zuma, antiga chefe da diplomacia sul-africana e ex presidente da União Africana, é ex-mulher de Jacob Zuma. Tinha apoio do actual presidente, e poderia ser para Zuma "um escudo" contra as acusações de corrupção de que é alvo. Ramaphosa, por sua vez, apesar de fazer parte do governo Zuma, procurou desfazer a ideia de que representaria continuidade, mostrando ideias reformistas e fazendo duras críticas à corrupção estatal, que prometeu combater.

Ramaphosa ganhou 2.440 votos, enquanto Dlamini-Zuma teve 2.261, uma diferença de apenas 179 votos. É preciso notar, entretanto, que os leais a Zuma conquistaram também altos cargos nesta votação, incluindo David Mabuza, como vice-chefe do partido, o que pode originar oposição interna à agenda de reforma do novo líder.

No seu manifesto eleitoral, Ramaphosa apoia a política do partido de "Transformação Económica Radical", visando colocar uma parte maior da economia nas mãos da comunidade negra, para diminuir as desigualdades herdadas do apartheid. Mas também procurou tranquilizar o setor empresarial, reconhecendo a necessidade de "melhorar a confiança dos investidores" e enfatizando a necessidade de "parceria". Defendeu, nesse sentido, um “novo acordo” entre todas as partes interessadas em acelerar a transformação económica do país - uma espécie de “New Deal” para a África do Sul.

Ramaphosa comprometeu-se também com um objetivo de crescimento de 3% em 2018. De acordo com o ISS Africa, isso só será possível se a África do Sul conseguir evitar a revisão em baixa do seu "rating" pela Moody’s, no novo ano. A única maneira de evitá-lo seria retirar Zuma da presidência, já no início de janeiro, fazendo com que a Assembleia Nacional eleja um novo presidente (provavelmente o próprio Ramaphosa), que nomeará um novo gabinete, e um ministro das Finanças. Isto já foi feito em 2008, com a retirada de Thabo Mbeki e a eleição do próprio Zuma.


* A autora é mestranda em Estudos Africanos no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP)