Africa Monitor

Acesso Livre

Paulo Guilherme

Sucessão de Santos ameaça estabilidade angolana

Sucessão de Santos ameaça estabilidade angolana

A manutenção da estabilidade interna, entre a população e entre as elites, tem sido chave para o crescimento económico em Angola e projeção desse poder dos “petrodólares” além-fronteiras. Agora, a sucessão do presidente José Eduardo dos Santos, alerta o investigador Gustavo Plácido dos Santos, vem colocar nuvens carregadas no horizonte.

No estudo “Angola: Rumo à Supremacia na África Sub-Saariana”, Plácido dos Santos sublinha que Angola se tornou num ator principal no continente. “Angola tornou-se num grande parceiro que tem de ser abordado em qualquer assunto na região dos Grandes Lagos, África Austral e Golfo da Guiné”.

“A ascensão de Luanda na região, em África e na cena internacional é uma certeza”, afirma o investigador do Instituto Português de Relações Internacionais e de Segurança (IPRIS). Mas, alerta, a estabilidade vai ser posta à prova, 34 anos depois de José Eduardo dos Santos chegar ao poder.

A sucessão “irá possivelmente originar disputas de poder internas e mesmo um levantamento social liderado pela oposição, que pode ameaçar o regime, e assim minar o caminho estável que o país tomou desde o fim da guerra civil”.

Entre os potenciais sucessores avultam o atual vice-presidente e ex-presidente da Sonangol, Manuel Vicente, mas também têm sido ventilados os nomes de Fernando Piedade Dias dos Santos (“Nandó”) e mesmo dos filhos de Santos.
 

CPLP, ator na segurança regional
Para Plácido dos Santos, Angola quer ser um ator mais relevante em questões de segurança regional, e não é de excluir um papel mais ativo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), que ainda está por ser testada em operações de paz.

Apesar de a cooperação militar institucional dentro da CPLP não dever ser uma realidade a curto prazo, “o seu potencial não deve ser descurado”. “Os países de língua portuguesa não apenas têm profundos laços culturais e políticos, que em princípio poderiam facilitar consenso e cooperação, mas têm também interesses estratégicos partilhados na África sub-saariana”, afirma o investigador do IPRIS.

Plácido dos Santos recorda ainda que a CPLP integra economias em rápido crescimento, que podem dar-lhe um papel mais importante no continente. “Com isto em mente, Angola pode encabeçar o desenvolvimento de capacidades na CPLP de promoção da segurança e estabilidade, especialmente na Guiné-Bissau e à volta do Golfo da Guiné, e portanto avançar os seus interesses nacionais noutra frente”.